quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Depois Da Tempestade


Depois da tempestade, metade da cidade está sob a água. Nos noticiários informam os principais pontos de alagamento, também os mantém atualizados sobre o transito na cidade. Porque assisto isso? Não estou fora de casa, e com essa chuva não pretendo ir a lugar algum. Mais uma vez verifico as janelas do apartamento, já as tinha fechado quando a chuva começou, mas essa é uma oportunidade de desenhar coisas no vidro embaçado. Seria silencio agora, se não fosse o som das gotas ao chocarem-se. Confesso que é convidativo. Os canais não transmitem nada alem de tragédias. Se eu desligar a TV e ignorar, resolve?

Sinto que estou no olho do furacão, sabe, na calmaria. Calmaria. Disseram-me que essa palavra não significa boa coisa. Nos tempos antigos, os navegadores que entravam na calmaria ficavam dias, meses e até anos, sem sair do lugar. Isso pode até parecer ruim, mas se não saio daqui, não corro mais riscos. Se não corro riscos, estou em segurança. Se estou em segurança... Não tenho com o que me preocupar.


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Violetas No Banheiro



Eu só queria voltar para casa e encontrar-te a minha espera, deitado no sofá, assistindo futebol e distraindo-se enquanto eu fechava a porta e ia direto para o banheiro. Passo a passo minha roupas cairiam pelo chão, e então seus olhos acompanhariam meu corpo, seus ouvidos atentos auxiliariam sua imaginação.

Ligaria o chuveiro, e encarar-me-ia no espelho, hesitante. Meu rosto está horrível - pensaria, e então examinaria cada ponto. Regaria as violetas que estariam na pia, e pareciam implorar por isso. Onde estive esses dias, me questionaria. O vapor tomaria conta do banheiro e mal veria meu reflexo, seria hora de entrar no box. Apoiaria minha mão sobre a torneira de água fria e abriria aos poucos até encontrar uma temperatura ideal. Molhar-me-ia aos poucos, primeiro os ombros e então a cabeça. Pararia ali, tentando respirar , concentrado, olhos fechados. Não saberia o que pensar, e então escutaria você entrar no banheiro, meus olhos abririam num susto e enxergaria sua penumbra através do vidro. Como quem não quer ser notado, abaixaria a tampa da privada e se acomodaria ali. Só que não olharia pra mim, não tentaria ver-me através do vidro, faria como quem respeita minha nudez...

- Como foi seu dia? - tentando disfarçar a timidez de me ver nu.
- Bem. - Respondi laconicamente.
- Onde esteve todos esses dias? - tentando parecer descontraído, olhando o chão.
- Perdi-me no caminho de casa. - agora indiferente.
- Por dias? - surpreso com a resposta.
- Sim. Pedi ao taxista que me deixasse no Jardim Das Flores, e ele me deixou num jardim em meio ao parque. Dá pra acreditar? - indaguei cinicamente.
- As violetas sentiram sua falta. - disse ele, acompanhando meu cinismo.
- Percebi assim que entrei em casa. - ainda cínico.
- E eu também senti...

Essas ultimas palavras mal sairiam da boca dele, sentiria o desespero atravessar o box, se redimia ao dizer isso, e eu sentir-me-ia o monstro dessa historia, a mão dele tocaria o vidro e ele tentaria olhar-me nos olhos.
Ele então se levantaria e antes que eu pudesse pensar em algo para dizer, até mesmo antes de lavar todo o shampoo do meu cabelo, ele sairia do banheiro, fechando a porta que eu havia deixado aberta.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Incerteza




Quando as flores lá fora não tornarem o dia mais bonito, saberei que algo está errado comigo?

Quando meu gosto por cafés amargos derem lugar aos cappuccinos, saberei que algo mudou em mim?

Quando sábados e domingos parecerem demasiadamente longos, saberei que algo melhor me espera no decorrer da próxima semana?

Só não saberei encontrar-me após me perder nos planos falhos que fiz, e nas tantas informações distorcidas que entendi.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Parte De Um Capitulo


O dia mal começara, raios de sol tentavam entrar por entre as frestas da persiana, o quarto estava iluminado o suficiente para perceber que ela já não estava mais ali. Na cama, um espaço. No travesseiro, seu perfume. O que fazia dela tão especial?

Talvez a capacidade de desaparecer no dia seguinte...